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Paralisacao tambem afeta indicadores de junho

Após os números negativos de maio em muitos segmentos econômicos, provocados ou intensificados pela greve dos caminhoneiros, ainda é incerto qual será o nível da atividade em junho. A julgar pela confiança do setor privado e dos consumidores os dados devem vir ruins. A prévia de alguns deles veio no vermelho.

Divulgado ontem, o Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria brasileira, apurado pela consultoria IHS Markit, caiu para 49,8 em junho. É a primeira vez em 16 meses que o indicador fica abaixo de 50, limite que separa queda e aumento da atividade. A causa principal foi a queda de produção, novas encomendas e escassez de insumos, ainda reflexo da greve. As empresas também informaram aumento de custos e demissões.

Em maio, houve aumento do estoque de produtos acabados em decorrência da paralisação, informou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o que acabou funcionando como combustível para a queda da confiança do setor em junho, segundo a sondagem mensal da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para o economista da CNI, Marcelo Azevedo, a produção industrial do mês passado deve ter tido recuperação apenas parcial.

"Pode ser que o efeito da paralisação não fique restrito a maio. Além da incerteza sobre a questão do frete, o estoques não devem se normalizar tão rapidamente, porque houve uma queda de confiança do consumidor, o que prejudica a demanda", diz Azevedo.

Em outros setores, como o comércio, a atividade de junho pode ser afetada por efeitos mais defasados da greve e pela Copa. Para a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) as vendas de maio não foram muito afetadas pela paralisação, porque as redes e lojas trabalham com estoques de 10 a 15 dias, mas o impacto deve ser visto em junho. Em maio, as vendas subiram 4,71% ante igual período do ano passado, em termos reais. Ante abril, a alta foi de 3,46%.

A greve dos caminhoneiros foi um choque de realidade para os agentes privados. A expressão, da economista Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos do Ibre-FGV, foi usada para explicar a queda da confiança da construção civil em junho, um mês após a paralisação, mas também pode ser aplicada de forma mais ampla.

Antes da greve, as projeções para a economia vinham caindo. Após a paralisação, o recuo se intensificou. "Os empresários se deram conta de que o cenário é mais desfavorável do que eles pensavam. A fragilidade é maior do que se esperava", afirma Ana.

"O recuo da confiança empresarial em junho aprofunda uma tendência esboçada nos dois meses anteriores", afirma Aloisio Campelo Jr., superintendente de Estatísticas Públicas da FGV.

Para Campelo, "parte do aumento do desânimo está relacionada aos desdobramentos econômicos e políticos da greve dos caminhoneiros. Esse efeito aparentemente temporário somou-se aos outros fatores que vinham provocando quedas da confiança: insatisfação com o ritmo lento de retomada da economia, falta de confiança na política econômica e aumento da incerteza política e eleitoral", afirmou ele, ao comentar a queda do Índice de Confiança Empresarial (ICE), que consolida os índices de confiança dos quatro setores cobertos pelas sondagens do Ibre-FGV: indústria, serviços, comércio e construção. O índice caiu 1,9 ponto, para 90,5.

Houve alta da confiança em menos de um terço dos 49 segmentos que compõem a sondagem, que engloba cerca de 5,5 mil empresas. Para a indústria automobilística, a greve antecipou um clima pessimista, que emergiu de fatores como freio no PIB, inflação mais alta (embora não ameaçadora) e câmbio depreciado.

Outro índice elaborado pela FGV, de incerteza da economia, deu salto de 10 pontos, a 125, voltando para o nível de janeiro de 2017. "O choque provocado pela greve gerou pressão inflacionária, aumento da volatilidade no mercado de ações, queda do presidente da até então maior empresa em valor de mercado do país, e, por fim, colocou em cheque a recuperação da economia", diz Pedro Costa Ferreira, economista da FGV.

Por fim, em junho, a confiança dos consumidores também foi afetada, o que é sempre ruim para a demanda doméstica. O motivo é a dificuldade de encontrar emprego. Dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego, da Seade/Dieese, mostraram que, na Grande São Paulo, aumentou para 50 semanas o tempo médio de busca de emprego. Em janeiro de 2016, no auge da recessão, essa procura durava 31 semanas.

Esse pode ser um dos motivos que levam cada vez mais pessoas a deixar o mercado de trabalho, no chamado desalento. É principalmente por causa desse pessoal que a taxa de desemprego tem se mantido relativamente estável. Na sexta-feira, o IBGE informou que a taxa ficou em 12,7% em maio. No ajuste sazonal feito pelo Itaú, houve estabilidade em 12,4%.

O banco MUFG avaliou que a criação de empregos em junho deve ter sido afetada pela greve. A alta de reação do mercado de trabalho é um dos motivos para a queda das projeções do PIB, diz o Itaú.

Na sondagem do setor de serviços, a intenção de contratação de trabalhadores no setor teve a maior queda em nove meses. Empresários do comércio afirmaram que sem melhora no nível de emprego a confiança continuará em queda.

FONTE: Valor