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Nova etapa nos juros?

Freio na atuação dos bancos públicos e criação da TLP são fatores da queda dos juros.

Os juros reais de um ano nas operações interbancárias e com as maiores empresas no Brasil estão hoje em aproximadamente 2,5%, descontando-se a inflação projetada para os próximos 12 meses. Em setembro de 2015, esse indicador atingiu o pico mais recente de 9,6%.

As perguntas que surgem são o porquê dessa forte queda do juro real e se ela será duradoura. Na verdade, o juro certamente vai subir de novo em algum momento, pois ele flutua, mas a questão é saber se irá até níveis máximos bem menores do que os do passado.

Como se sabe, o Banco Central (BC) reduziu a Selic de 14,25% para 6,75% desde outubro de 2016. A grande aposta é que a Selic cairá para 6,5% na reunião do Copom na próxima semana, e há até quem creia em mais algum corte.

Alexandre Bassoli, economista-chefe da área de gestão de recursos do grupo Opportunity, observa que o freio recente na atuação dos bancos públicos, com suas linhas subsidiadas, e a criação da TLP do BNDES, uma taxa que acaba gradativamente com o subsídio, são um fator da queda dos juros. Taxas subsidiadas, artificialmente baixas, fazem com que o BC tenha que manter uma Selic mais alta para calibrar os juros médios da economia (que têm impacto na demanda e, portanto, na inflação).

Outra causa é a recuperação da credibilidade do BC, que ancora as expectativas inflacionárias e torna mais fácil (isto é, exige menos juros reais) baixar a inflação. Há ainda o cenário internacional muito favorável aos emergentes, com quedas generalizadas de spread de risco, mesmo depois do início da alta das taxas de juros americanas.

E, finalmente, há o fato de que a inflação está muito baixa em relação à meta de 4,5% e existe ainda uma enorme folga de recursos na economia brasileira – desemprego elevado e grande capacidade ociosa nas empresas. Nessa situação, faz todo o sentido o BC manter o juro real bem menor do que o nível neutro (que não estimula nem desestimula a demanda), como é o caso hoje, para insuflar a economia.

Essa é a razão, aliás, pela qual se espera que a Selic e o juro real voltem a subir no futuro. Depois que os recursos ociosos forem empregados e o desemprego retornar a um nível normal, a política monetária deve parar de estimular a economia, o que significa que o juro real deve caminhar para próximo do nível neutro.

Samuel Pessôa, sócio e economista-chefe da gestora Reliance e pesquisador do Ibre/FGV, vê chances de que a Selic e o juro real, mesmo depois do ajuste para cima, fiquem de forma duradoura em níveis ineditamente baixos. A razão é que o juro real já poderia ter caído bem antes, se não fosse, no período de 2004 a 2014, a expansão constante dos gastos públicos acima do PIB, a forte expansão do crédito dos bancos públicos e um boom de crédito dos bancos privados, motivado por reformas que reforçaram os mecanismos de garantia – uma combinação que insuflou a demanda e obrigou o BC a manter juros reais altos para a inflação não sair de controle.

Hoje, os bancos públicos estão contraídos, a política fiscal mudou de sinal desde 2015 e os bancos privados estão cautelosos ao emprestar por causas de perdas em função do boom anterior. A se manterem esses fatores, especialmente a política fiscal e parafiscal (bancos públicos) conservadora, há um horizonte razoável para juros reais significativamente mais baixos no Brasil do que no passado, para Pessoa. O que, se for verdade, pode mudar para melhor a dinâmica de crescimento da dívida pública, ajudando a resolver o nó fiscal.

Por outro lado, não fazer a reforma da Previdência é uma ameaça à consolidação de níveis permanentes de juros reais bem mais baixos. Não é à toa que os juros reais em títulos do governo brasileiro atrelados à inflação e de prazos muito longos (como os que vencem em 2030) permanecem próximos a 5% – um sinal de que a economia ainda tem pés fiscais de barro.

* COLUNISTA DO BROADCAST E CONSULTOR DO IBRE/FGV