Greve de caminhoneiros afeta empresas e abastecimento de combustível
BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO - O terceiro dia da greve dos caminhoneiros autônomos provocou problemas de abastecimento de combustível em várias partes do país. A manutenção da greve pode comprometer a oferta do produto já nos próximos dias.
Desde a manhã desta quarta-feira os postos do Estado de São Paulo não recebem nenhum tipo de combustível, de acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouveia. "Os postos de combustíveis têm, em média, estoque para operar por dois ou três dias. Hoje não recebemos combustível."
O Sindigás, sindicato que engloba as empresas distribuidoras de GLP, informou em nota que os protestos de caminhoneiros contra os recentes aumentos do preço do diesel "já começam a ameaçar o abastecimento de GLP pelo país".
No comunicado, o Sindigás diz que a interdição das principais rodovias brasileiras impede a saída dos caminhões que transportam o gás, seja a granel ou em botijões, das bases de enchimento das distribuidoras até o consumidor final ou até as revendas de gás.
"Há também veículos que estão parados em meio às estradas bloqueadas, impossibilitados de levar o gás para aquelas bases que não dispõem de dutos que liguem as refinarias às distribuidoras", diz a nota.
A SPTrans, empresa responsável pela administração do transporte público na cidade de São Paulo, informou em nota que está reunida desde a manhã com autoridades do setor de segurança para garantir continuidade do abastecimento de combustíveis das empresas de ônibus da cidade.
A Diretoria de Operações intermediou ações junto ao comando da Polícia Militar para garantir a liberação dos caminhões de abastecimento a partir das refinarias até as garagens das empresas na cidade de São Paulo.
A Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) divulgou nota na qual afirma que o desabastecimento de óleo diesel atingiu hoje "um ponto extremamente crítico para a operação das empresas de transporte público, provocando impactos diretos na circulação dos ônibus em todo o Estado".
No comunicado, a Fetranspor estima em até 40% o percentual da frota que não foi para as ruas por indisponibilidade de combustível. Segundo a Federação, as empresas estão buscando alternativas para superar o desabastecimento.
A Fedex informou que muitos dos veículos da frota estão retidos em vários pontos do país. "Algumas localidades estão com as coletas restritas nos serviços doméstico e internacional", informou a empresa.
O vice-presidente financeiro do Carrefour Brasil, Sébastien Durchon, apontou que se a greve dos caminhoneiros se prolongar por mais tempo, as vendas da rede serão afetadas nos segmento de perecíveis e no de bens duráveis.
A greve dos caminhoneiros já provocou a paralisação de 78 abatedouros de aves e suínos do país, informou o vice-presidente de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. "Ontem, já tínhamos oito plantas fechadas. Hoje, temos 78 unidades e, se a greve não parar, amanhã passará de 110", disse Santin.
De acordo com a ABPA, a interrupção do tráfego em algumas das mais importantes rodovias do país atrapalha o fornecimento de ração aos avicultores e suinocultores.
A BRF, maior produtora de carne de frango e carne suína do país, já paralisou totalmente quatro unidades -- uma no Mato Grosso, duas no Paraná e uma em Santa Catarina. O motivo é também a falta de matéria-prima. Outros nove frigoríficos da companhia terão as atividades suspensas (total ou parcialmente) ainda hoje.
Já a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) afirmou que "estão se agravando" os reflexos, sobre a indústria fluminense, da paralisação dos caminhoneiros. Em nota, a federação disse que no Estado do Rio há casos críticos, como na indústria de alimentos.
"No Sul Fluminense, por exemplo, fornecedores da indústria de laticínios estão descartando a produção de leite devido aos bloqueios nos transportes de carga. No Centro-Sul, frigoríficos de aves também não estão conseguindo escoar a produção", diz o comunicado.
Os Correios suspenderam postagens de encomendas com dia e hora marcados devido a problemas de distribuição causados pela paralisação dos caminhoneiros nos últimos três dias. São afetados os serviços de Sedex 10, 12 e Hoje, temporariamente suspensos.
Se greve dos caminhoneiros continuar todas as fábricas de veículos vão parar até o fim de semana, disse Antonio Megale, presidente da Anfavea, associação que reúne as montadoras. Segundo ele, muitas fábricas já pararam suas linhas de montagem e, se a paralisação continuar até o fim de semana.
Megale estima uma queda na produção, nas vendas e nas exportações de veículos, o que trará "impacto direto na balança comercial brasileira e na arrecadação de tributos".
A Infraero informou que está monitorando o abastecimento de querosene. A estatal diz que alertou aos operadores de aeronaves que "avaliem seus planejamentos de voos para que cada um possa definir sua melhor estratégia de abastecimento de acordo com o estoque disponível na origem e destino do voo".
Após três dias de greve, o abastecimento de alimentos na maior capital do país sofre seus primeiros impactos.
Em São Paulo, na Ceagesp, maior entreposto de frutas, verduras e legumes do Brasil, houve queda na entrada de produtos de outros Estados, com consequente aumento dos preços.
Segundo Flavio Godas, economista da Centro de Abastecimento, os atacadistas chegaram a antecipar as entregas de segunda-feira para domingo, já cientes da possível paralisação dos caminhoneiros. Na terça-feira, dia de menor movimentação na Ceasa, os impactos foram restritos. Hoje, contudo, os efeitos da greve começaram a ser sentidos.
Entre as principais altas diárias estão a do mamão (18,4%), do melão (10,4%), e da manga (2,7%) -- frutos oriundos do Norte e Centro-Oeste do país. No caso do mamão formosa, os preços já vinham em alta devido a problemas climáticos e queda da oferta no Rio Grande do Norte e Espírito Santo.
Outro produto fortemente impactado em disponibilidade e preço foi a batata, cuja oferta está atualmente concentrada em Minas Gerais e do Paraná. O produto apresentou preço médio de R$ 3,03 o quilo na Ceagesp hoje, valorização de 33,4%.
FONTE: Valor (Colaboraram Rafael Rosas, Edna Simão, Alexandre Melo, Fernanda Pires, João José Oliveira, Silvia Rosa, Luiz Henrique Mendes, Kauanna Navarro, Marli Olmos, Cleyton Vilarino)