Comércio eletrônico busca opções aos Correios
Empresas de logística estão aumentando a participação no mercado de vendas pela internet, que movimentou R$ 47,7 bilhões no ano passado e cresce a um ritmo forte. Os Correios, embora dominem o segmento de entregas, vêm perdendo clientes.
Há cinco anos, a estatal atendia 93% dos varejistas on-line. Essa fatia caiu para 87,5% em 2015, e para 80,9% no ano passado, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Comércio Eletrônico (ABComm), que reúne quase 6 mil empresas de e-commerce no país.
"Crescemos 20% em 2017 graças, em grande parte, ao nosso posicionamento voltado para o comércio eletrônico. Este ano, o e-commerce continua sendo o motor do crescimento", disse o presidente da JadLog, Bruno Tortorello, da empresa de logística que faturou R$ 480 milhões ano passado. Segundo ele, o comércio eletrônico já representa 40% das operações da companhia, que ano passado entregou 12,5 milhões de encomendas.
O comércio eletrônico brasileiro deve crescer 12% este ano ante 2017, e movimentar R$ 53,5 bilhões, segundo projeções da consultoria E-Bit, ritmo superior ao apurado ano passado, de 7%, quando somou R$ 47,7 bilhões. A empresa aponta que o aumento do número de pedidos vai ser alimento pela migração de usuários do varejo físico para o on-line.
"O crescimento que tivemos em 2017, de 30% em nossos faturamento, foi puxado pelo comércio eletrônico, que responde por cerca de 9% de nossa operação", disse o diretor geral da Total Express, Ariel Herszenhorn, da empresa de logística do grupo Abril.
Segundo o executivo, o crescimento em 2018 deve ficar na casa de 25%. "O segmento que mais cresce é justamente o de pequenos e médios comerciantes", disse Herszenhorn.
Esse comerciante de pequeno porte é um dos que mais utilizam os Correios, a estatal de logística que apesar de dominar o mercado não tem acompanhado o ritmo do setor privado.
"Estamos bastante animados com a demanda no Brasil, que tem sido forte em diversos segmentos, com destaque para o comércio eletrônico", disse o diretor comercial da DHL Express, Alan Goldsmith. O executivo disse que a demanda dos brasileiros por produtos comprados na internet também movimenta a logística internacional. "Vemos maior demanda por produtos vindos da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia", afirmou.
Ao longo de 2017 os Correios mudaram a estratégia para o comércio eletrônico. Uma das medidas foi o encerramento do e-Sedex, modalidade de entrega rápida mais barata para os varejistas on-line, o que ampliou o espaço para as empresas do setor privado.
Além disso, a estatal vem reajustando tarifas. Em fevereiro, o aumento das taxas levou o Mercado Livre, um dos maiores portais de e-commerce do país, a lançar a campanha #FreteAbusivoNão. Segundo a empresa, o aumento de custo chega a 51%.
Na pesquisa da ABComm, 43,9% das empresas de comércio eletrônico do país que utilizam os Correios para entregar produtos a consumidores consideraram os serviços da estatal péssimos ou ruim, quase o dobro dos 23,9% de descontentes em 2015.
O percentual de varejistas on-line que aprovam os serviços dos Correios (com notas de bom ou ótimo) caiu de 31,3%, em 2015, para 23,1% em 2017. Os que classificam o serviço da estatal como apenas razoável, passaram de 44,8% para 33% nesse período.
Segundo a ABComm, o principal problema enfrentado pelas lojas virtuais com os Correios é o atraso na entrega, cujas reclamações aumentaram consideravelmente de 2015 para 2017. Atraso nas entregas, demora nas tratativas e extravios são os três principais problemas enfrentados, com percentuais de citação de 78,4%, 45,7% e 43,6%, respectivamente, em um questionário de múltipla escolha.
"Os Correios estão fragilizados financeiramente, precisam mudar rapidamente, mas tem grandes amarras. A perda de espaço dos Correios só não é maior porque a marca ainda é muito forte, a empresas tem vantagens tributárias, como não pagar ICMS ou IPTU, e ainda conta com a leniência do consumidor, que é mais tolerante com atrasos dos Correios do que com as empresas privadas", afirma Tortorello, da JadLog.
Outra pesquisa, da consultoria E-Bit, mostra que de maneira geral o varejo on-line está demorando mais para entregar os produtos aos consumidores. O prazo médio prometido para entregas subiu de 9,8 dias, em janeiro de 2017, para 11,6 dias, em janeiro último.
Executivos do setor atribuem essa piora ao crescimento do universo de consumidores e a fatores como segurança. Segundo a JadLog, por exemplo, há ajustes nas entregas para evitar assaltos, com limitação de horários de circulação de carros, por exemplo.
As entregas com prazo superior a uma semana subiram de 40%, em janeiro de 2017, para 49,1% das compras em janeiro de 2018, segundo a E-Bit.