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Com alta de combustiveis, risco de IPCA acima da meta entra no radar

Uma taxa de inflação pouco acima da meta este ano entrou no radar de alguns economistas diante do impacto dos reajustes dos derivados de petróleo provocados pela desvalorização do câmbio e pelo aumento da cotação do barril no mercado internacional. Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou a 0,48% em setembro, após queda de 0,09% em agosto. Em 12 meses, acumulou alta de 4,53%. A meta para 2018 é de 4,5%.

Nada muito preocupante por ora. Mas não deixa de ser notável que dias antes do início da greve dos caminhoneiros, em maio, a mediana das expectativas do mercado para o IPCA tinha chegado à mínima do ano, em 3,45%.

Em setembro, o dado um pouco acima do esperado provocou ajustes para cima em algumas previsões. O Itaú Unibanco aumentou a projeção para o ano de 4,1% para 4,5%, citando a expectativa de alta do petróleo e do repasse da alta do dólar para os preços ao consumidor. "A maior parte do ajuste ocorreu na projeção para os combustíveis, em razão da revisão para o preço do barril do petróleo no fim do ano (de US$ 72 para US$ 85 o tipo Brent). A depreciação recente na taxa de câmbio vem afetando, de forma mais rápida e intensa, o resultado dos índices de preços no atacado e pode exercer alguma pressão adicional na inflação ao consumidor nos próximos meses", afirmou a instituição, em nota. Por causa do petróleo, a projeção de alta da gasolina no ano subiu de 12% para 19%.

André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), vê uma taxa maior, de 4,7%. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) entende que a alta dos administrados - combustíveis, energia elétrica etc. - não dá mais espaço para um IPCA abaixo da meta e estima 4,6%. A LCA elevou a estimativa de 4,3% para 4,4%, mas não descarta um aumento adicional na projeção, a depender do câmbio.

O dólar, que disparou em setembro, mas no início de outubro devolveu a alta, é um dos elementos-chave das projeções, embora o repasse seja limitado pela grande ociosidade da economia e do mercado de trabalho. Por enquanto, seu impacto mais evidente tem sido nos derivados de petróleo. Metade (0,24 ponto) do avanço do IPCA de setembro deve-se aos combustíveis, especialmente à gasolina. Em 12 meses, a gasolina é a principal influência, responsável por 0,81 ponto da alta de 4,53%, seguida pela energia elétrica (0,71 ponto).

O câmbio também afeta alguns alimentos, como farinha de trigo e pão francês, mas seu efeito sobre os preços livres é limitado. Há alguns sinais de alta, contudo.

É o caso dos chamados produtos comercializáveis - que podem ser negociados com o mercado externo. Segundo André Braz, do Ibre-FGV, esses itens estão em aceleração, o que mostra o impacto do câmbio em uma cesta de produtos mais extensa. Em 12 meses, eles passaram de queda de 1,24% no IPCA de junho para alta de 3,03% no mês passado, segundo cálculo do economista.

"Se o câmbio mantiver o atual patamar [em torno de R$ 3,90], o impacto pode ser mitigado. Mas, se voltar a ficar acima de R$ 4,1, poderá haver um repasse maior", afirma Braz, para quem os dados disponíveis até agora confirmam um IPCA acima de 4,5% neste ano. A despeito disso, ele acredita que o Banco Central vai manter a Selic em 6,50% até o fim de 2018.

Ainda não há efeitos significativos da alta do dólar em bens duráveis e eletroeletrônicos. "Seus preços dependem mais de emprego, renda e crédito", diz Braz.

Para o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o atual cenário da inflação continua confortável, mas a perspectiva de curto prazo piorou "ligeiramente" por causa do câmbio. A valorização do real nos últimos dias mitigou os riscos para os preços e a ociosidade da economia dá ao Banco Central certo conforto.

"Apesar disso, há um risco crescente de o BC começar a normalizar gradualmente a política monetária antes do final do ano", afirmou. A volta da alta dos juros ainda em 2018 será mais provável se o dólar voltar a subir influenciado tanto por pressões externas quanto pela eleição presidencial no Brasil, diz.

Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, há uma janela para taxas mais altas no IPCA neste último trimestre, a depender da eleição. A LCA estima inflação de 4,4% no ano, mas o número pode ser revisado. "Para outubro, estimamos uma aceleração a 0,54%. Depois disso, a inflação está em aberto. Vai depender do câmbio, que está em parte ligado ao desfecho da eleição", diz. A estimativa para a inflação do mês é de 0,53%. Além da continuidade de alta nos combustíveis, a consultoria projeta aceleração nos grupos alimentação e bebidas, vestuário e saúde e cuidados pessoais.

FONTE: VALOR