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Ciclo de queda de juros deve terminar com novo corte em maio, diz BC

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A inflação abaixo do esperado e o risco de não cumprir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) a cortar a Selic para 6,5% ao ano na reunião realizada nos dias 20 e 21 de março e a acenar nova redução no encontro dos dias 15 e 16 de maio.

A ata da última reunião, divulgada nesta terça-feira, explicita as discussões ocorridas no colegiado presidido por Ilan Goldfajn, que mudou de postura em comparação com o acenado em fevereiro e decidiu "pela necessidade de tornar a política monetária um pouco mais estimulativa".

Na discussão descrita na ata, o novo corte de juros em maio deve encerrar o ciclo de alívio monetário. O BC explica, primeiramente, que alterou a rota sinalizada no encontro de fevereiro e optou por fazer um ajuste adicional na Selic por causa da evolução da conjuntura e do balanço de riscos desde então: a inflação e seus núcleos voltaram a surpreender para baixo, elevando o risco de descumprimento da meta. Parte desse ajuste foi o corte de 0,25 ponto da taxa feito na reunião de março. E, sob a ótica atual, uma nova redução, em maio, parece adequada, reitera o documento, que faz questão de listar as condicionalidades para que esse movimento se concretize. 

A meta para 2018 é de 4,5%, recuando a 4,25% em 2019. A projeção do BC é de inflação em 3,8% neste ano e o mercado trabalha com preços ao redor de 3,6%.

Ao debater os próximos passos na condução da política monetária, os participantes do Copom chegaram ao consenso de que a evolução da conjuntura, do cenário básico e do balanço de riscos desde fevereiro "foi tornando clara, ao longo do tempo, a necessidade de um ajuste da política monetária em relação ao movimento que havia sido sinalizado como mais provável na reunião anterior", de fevereiro.

Em fevereiro, o BC havia deixado uma porta aberta para cortar os juros na sua reunião de março, mas sem dar certeza disso. E também antecipou que pretendia parar de cortar os juros em maio.

"Entretanto, os membros do Copom concluíram pela necessidade de tornar a política monetária um pouco mais estimulativa", diz o documento, para sinalizar mais um corte moderado na taxa no encontro marcado para maio. Essa conclusão, traz a ata, decorreu de dois fatores. "Primeiro, o Copom julgou que a dinâmica das diversas medidas de inflação subjacente sinalizava maior risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas", afirma a ata. "Nesse contexto, um estímulo monetário adicional mitigaria esse risco."

O segundo ponto ponderado pelo Copom é que, mesmo com trajetória para a taxa Selic que já incorporava redução para o patamar de 6,5% ao ano, as perspectivas para inflação - levando em conta expectativas, projeções e avaliação de amplo conjunto de informações - apresentaram recuo no horizonte relevante, principalmente para 2018.

"O Copom decidiu, portanto, sinalizar que, para a próxima reunião, uma flexibilização monetária moderada adicional se mostra adequada sob a ótica atual", diz a ata. O comitê ressaltou, porém, que pode haver mudanças, dependendo da evolução dos dados econômicos e dos riscos. 

 "Tendo em vista o princípio que norteia sua condução da política monetária, de explicitar condicionalidades que julga relevantes, o Comitê decidiu também comunicar que essa visão para a próxima reunião poderá se alterar e levar à interrupção do processo de flexibilização monetária, no caso dessa mitigação de riscos se mostrar desnecessária", afirma a ata.

No debate sobre os passos seguintes à reunião de maio, o Copom informa que o cenário relevante estará majoritariamente concentrado no ano-calendário de 2019.

Levando em conta o balanço de riscos, as defasagens e incertezas associadas ao processo de transmissão da política monetária, o Comitê concluiu que, no encontro de 19 e 20 de junho, deverá se mostrar apropriado interromper o processo de flexibilização monetária.

"Dados os riscos que a economia enfrenta e a incerteza quanto às defasagens na transmissão da política monetária, o comitê julga que pode precisar de algum tempo para avaliar a evolução da economia e sua reação aos estímulos monetários já implementados, tendo em vista o horizonte relevante naquele momento", diz o documento.

Os participantes do Copom, porém, discordaram sobre como comunicar essa indicação para as decisões depois de maio. Alguns queriam uma indicação mais enfática do fim do ciclo, enquanto outros defendiam deixar uma porta aberta para cortar mais o juro. Por fim, o colegiado optou por dizer que, "salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação, o comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária, visando avaliar os próximos passos".

Dessa forma não ficam completamente descartadas novas reduções para além da reunião de maio. Mas isso depende de mudanças relevantes sobre projeções, expectativas e demais fatores considerados tento em vista o cumprimento da meta em 2019.

Nos debates sobre o comportamento dos preços, todos concordaram que a inflação evoluiu de forma mais benigna que o esperado neste início de ano. De fato, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu para baixo, acumulando variação de 2,84% em 12 meses até fevereiro, contra projeção de 3,09% do Relatório de Inflação (RI) de dezembro.

Na avaliação do Copom, a política monetária tem de balancear os riscos, tendo em vista a incerteza quanto às defasagens do impacto de estímulos monetários na trajetória da inflação. 

"Isso envolve reagir para assegurar que a inflação convirja para a meta numa velocidade adequada e ao mesmo tempo garantir que a conquista da inflação baixa perdure, mesmo diante de choques adversos", diz o texto, reiterando que o BC tem flexibilidade para reagir a riscos de ambos os lados.

Nas discussões sobre a atividade, a avaliação da autoridade monetária é de recuperação consistente. Mas a ata revela que um membro mencionou sinais de pequeno arrefecimento, na margem, no processo de recuperação. Os outros ponderaram que essas oscilações são naturais no atual estágio do processo. No fim, todos concluíram que a recuperação da economia "apresenta consistência".

Depois de indicadores sobre o desempenho da indústria e varejo saírem abaixo do estimado no começo de 2018, o mercado promoveu uma rodada de revisões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que caiu da linha dos 3% para cerca de 2,8%.

A visão do BC é de que a economia segue operando com alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego. Tal fato, aliado a expectativas e projeções ancoradas, "prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural".

Para o Copom, o cenário externo tem se mostrado favorável, com atividade econômica crescendo globalmente. O cenário base é de normalização gradual das condições monetárias em economias centrais, mas o BC cita a existência de sinais de elevação de salários e perspectivas de retorno da inflação às metas nessas economias. O comportamento dessas variáveis pode tornar esse processo de ajuste mais volátil, com consequente aperto das condições financeiras.

O BC também reconhece que aumentaram os riscos associados à continuidade da expansão do comércio internacional. E cita " medidas protecionistas, com possíveis impactos sobre o crescimento global e a volatilidade das condições financeiras".

O Copom voltou a destacar, contudo, a capacidade que a economia brasileira apresenta de absorver eventual revés internacional. O país conta com robusto balanço de pagamentos, inflação baixa, expectativas ancoradas e perspectiva de recuperação econômica.

Por Alex Ribeiro, Eduardo Campos, Lucinda Pinto e Lucas Hirata | Valor