Atraso dos Correios afeta entregas em Ribeirão Preto e provoca onda de reclamação entre usuários
Sindicato critica redução de funcionários e sobrecarga de trabalho. Correios associam problemas a lentidão em central de tratamento postal, mas diz que entregas são regulares.
Prédio dos Correios em Ribeirão Preto, SP (Foto: Reprodução/EPTV/Arquivo)
Morador da Vila Tibério, onde tem uma banca de revistas, Cláudio Donizeti Leite de Souza, de 61 anos, diz ter problemas com atrasos na correspondência desde dezembro do ano passado.
Contas de telefone e de internet, por exemplo, chegaram até cinco dias depois do vencimento, o que o fez pagar juros.
"Não pode acontecer. O correio fica desacreditado numa dessa, completamente desacreditado", reclama.
O problema relatado em diferentes regiões da cidade, segundo o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Ribeirão Preto e região, está associado a fatores como a redução no quadro de funcionários e a centralização da triagem em Indaiatuba (SP) - antes feita na cidade em um prédio localizado no bairro Lagoinha.
O sistema de entrega alternada também não tem se mostrado eficiente, afirma Fernanda Romano, diretora da entidade, que representa mais de 2 mil trabalhadores em 92 cidades da região, incluindo centros como Franca (SP), Araraquara (SP) e Barretos (SP).
Fernanda Romano, diretora do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Ribeirão Preto e região (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
Esses problemas têm causado atrasos de, em média, 15 dias para que as remessas cheguem a Ribeirão e também afetam os carteiros, que não têm culpa, mas são constantemente ameaçados por moradores irritados.
"Os carteiros estão sendo agredidos verbalmente diariamente. É importante a população saber que a correspondência não está atrasada aqui. A culpa não é do carteiro. Ela não fica parada aqui", afirma.
A direção dos Correios informou, em nota, que as entregas em Ribeirão Preto tem sido feitas regularmente, mas confirmou que os problemas ocorridos ocorreram em função da demora na central de tratamento das correspondências.
"Os atrasos na cidade ocorreram devido à sobrecarga no centralizador dos Correios, onde a carga postal é tratada antes de ser encaminhada para as unidades de distribuição."
Em relação às agressões dos carteiros, a orientação dos Correios é comunicar o gestor e procurar a polícia para registrar boletim de ocorrência.
Carteiro relata ameaças de moradores irritados em Ribeirão Preto (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
'Correio fica desacreditado'
Dono de uma concessionária de veículos na Ribeirânia, zona leste de Ribeirão Preto (SP), o empresário César Bovo tem ouvido com frequência reclamações de clientes que, sem receber o boleto em dia, pagaram financiamentos com atraso de até uma semana e acabam pagando juros.
"Parcela chega atrasada e eles vêm na gente. Pra gente resolver eu pago a diferença ou brigo com a financeira", relata.
A história se repete na zona sul. De fatura do cartão de crédito a ingresso de festa no carnaval, o zelador Fernando Tadeu de Melo já ouviu todo tipo de reclamação relacionada a correspondência que não chegou em um condomínio no Jardim Nova Aliança.
"Teve pessoal que recebeu multa fora do prazo de reclamação, conta do cartão de crédito atrasada, um rapaz que tinha acabado de comprar o carro recebeu o carnê com cinco dias de atraso. Houve vários outros fatos que correram também por causa do atraso da correspondência", diz.
Diretora da entidade que representa carteiros em 92 cidades da região de Ribeirão Preto, Fernanda Romano considera legítimas as reclamações, mas orienta que os moradores as façam pelo SAC da empresa, o 0800-725-0100.
"Temos uma grande parcela da população que não tem acesso direto a internet pra imprimir boletos, que é uma saída. Tem toda razão a população em ficar revoltada", afirma.
As queixas contra os carteiros têm aumentado a cada dia e têm se tornado cada vez mais violentas, segundo o sindicato, que ainda não registrou agressões físicas. De acordo com a entidade, a média de reclamações, contando municípios da região, chega a dez por dia.
"Era de dia cheguei, por volta das 9h30 da manhã. Ao bater no portão a pessoa já veio atender, uma mulher. Ao perguntar pra ela se ela sabia o RG, ela começou a xingar, discutir, falar que estavam chegando as coisas todas as coisas atrasadas. Eu, ao tentar conversar com ela, quase fui agredido", afirma um carteiro de 46 anos que prefere não ser identificado.
Ao relatar a situação vivida na Vila Virgínia, zona oeste da cidade, ele conta que nunca havia passado por isso em 20 anos de profissão.
"A gente fica com um certo medo sim, em decorrência desses atrasos que estão acontecendo com a empresa. Pra nós que trabalhamos nos Correios, entregar carta com um dia de atraso já uma coisa muito ruim. Imagina chegar à casa de um cliente com a fatura dele dez dias após o vencimento."
A tendência, segundo Fernanda, é que as reclamações aumentem, caso a direção da empresa não tome providências. A diretora do sindicato argumenta que, nos últimos dois anos, as condições de trabalho dos funcionários têm piorado gradativamente.
A reestruturação, de acordo com ela, previa a substituição da mão de obra por máquinas a fim de agilizar processos, mas isso não aconteceu. Em contrapartida, o número de funcionários foi reduzido por planos de demissão voluntária, aumentando a demanda de serviço para quem permaneceu.
Na região de Ribeirão, ela estima uma queda de 20% no total de funcionários nos últimos quatro anos e menciona que, desde 2011, não são realizados concursos para reposição de servidores.
Cada um dos 600 carteiros que levam as correspondências pela cidade, segundo estimativa do sindicato, chega a andar até 15 quilômetros por dia.
"Diminuiu a mão de obra e não tem máquina. As correspondências, ao contrário do que diz o presidente da empresa, têm aumentado. Você não vê mais hoje, ou é muito raro, uma correspondência manuscrita, pessoal, mas cartão de crédito, você faz uma compra em uma loja, você recebe correspondência. As correspondências aumentaram, as cidades, a população aumentou."
O sindicato informa já ter falado sobre o assunto com a direção da empresa, mas que a questão permanece sem solução. "A empresa fala que as correspondências diminuíram, que não tem atraso, que não tem problema. Essa é a resposta da empresa."