Atividade tem queda recorde em maio, mas deve estabilizar no 2o tri
O tombo da atividade econômica em maio, confirmado pelo Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central (BC), foi temporário e, na visão de economistas, junho já deve recompor em grande parte, as baixas pontuais na produção industrial, vendas no varejo e serviços.
Embora esperem algum repique da atividade após o fim da paralisação dos caminhoneiros, os analistas ainda continuam avaliando que o crescimento seguirá lento e sujeito a solavancos pelo caminho por causa da incerteza em alta, das eleições presidenciais de outubro e de um cenário externo mais desafiador.
Considerado uma 'prévia' do Produto Interno Bruto (PIB), O IBC-Br apontou queda de 3,34% na passagem de abril para maio, na série com ajustes. Foi o pior resultado já registrado na série do índice, que começa em 2003, mas veio em linha com a projeção média de 22 instituições consultadas pelo Valor Data.
Para junho, o banco UBS projeta alta de 3% do indicador em base anual e de 4% em relação a maio. Em entrevista ao Valor, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, lembrou que alguns indicadores mostram "recuperação em V", como a produção de automóveis, os embarques de papelão e o fluxo de caminhões em estradas com pedágio (ver gráficos acima).
Para o segundo trimestre, as projeções dos bancos e consultorias oscilam entre estabilidade e alta de 0,3% da atividade em relação aos três primeiros meses do ano. O UBS está na ponta mais otimista, ao prever avanço de 0,3% no período. "Em geral, esses números apontam para uma recuperação lenta no Brasil, consistente com nossas projeções do PIB recentemente revisadas", diz o relatório. O UBS projeta alta de 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 e de 2,5% em 2019.
Já o banco Fibra, antes otimista, espera agora estabilidade no segundo trimestre, com algum viés de alta. "Não descartamos que, à medida em que mais indicadores sejam divulgados, a revisão aponte para crescimento levemente positivo", diz relatório. Ainda assim, o Fibra revisou a estimativa para o PIB do ano de 1,8% para 1,4%, levando em conta uma série de variáveis econômicas e financeiras do terceiro e quarto trimestres.
O Bradesco também vê o PIB estável de abril a junho, de uma projeção anterior, revisada na sexta-feira, de contração de 0,3% no período.
O que ainda é dúvida entre os analistas é o que sobrou como herança negativa na economia depois dos 11 dias da greve. Para Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria, os eventos do fim de maio abalaram a confiança dos consumidores e empresários e desarticularam cadeias importantes, como a de aves.
O economista lembra que o cenário eleitoral e o ambiente externo menos favorável a emergentes são dois fatores que devem criar um clima de mais cautela a partir de agora. Somadas as cicatrizes de maio, o resultado é um acréscimo de incerteza a um cenário já difícil.
"O que está claro, por enquanto, é que teremos um arrefecimento da atividade no segundo semestre. Nesse sentido, a queda da confiança prejudica as perspectivas", afirma Xavier.
Antes da greve, as projeções para o PIB já vinham em queda, como pode ser visto na série do Focus, relatório do BC divulgado semanalmente. A paralisação acelerou as revisões. Em fevereiro, auge das projeções do mercado, a mediana do PIB chegou a subir até 2,92%. Esse cenário mais positivo prevaleceu até a primeira semana de março.
Mas diante de indicadores cada vez mais fracos, antes da divulgação do PIB do primeiro trimestre, que ocorreu dia 30 de maio, e da greve, entre os dias 21 e 31 de maio, a estimativa já tinha caído a 2,37%. Naquele momento várias instituições já cortavam suas estimativas para o primeiro trimestre e para o ano. Foi o caso de Itaú (de 3% para 2%), Anbima (de 3% para 2,4%), UBS (de 3,3% para 2,7%). Na ocasião, o Banco Pine, por exemplo, já dizia que um PIB de 2% seria improvável.
A divulgação do PIB do 1ª trimestre, que cresceu 0,4% ante o último de 2017, ocorreu nos dias finais da greve, quando os estragos provocados pelo movimento aceleraram as revisões para baixo, que agora chegaram a 1,5% na mediana do Focus.
FONTE Valor